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Paulo Monteiro

1999

Os trabalhos de Célia Euvaldo, em especial os últimos, em óleo sobre tela, partem sempre de um impulso que grava o trajeto do pincel através do óleo negro. Não há muito tempo para ir e voltar e as pinceladas não só determinam o contorno da forma preta, mas também provocam diferentes profundidades dentro dela.


Seria possível dizer que são trabalhos feitos de uma só vez, uma só tacada, mas isso estaria mais próximo de um desenho quando não se interporia tanto entre o artista e o papel a materialidade da tinta a óleo, essa pasta dócil e molenga capaz de contar tudo sobre o instrumento que a carregou. As formas negras, um pouco como o óleo quando cai na água, não se misturam com o branco da tela. Esse branco fica como uma espécie de fundo para a figura negra que o percorre, só que um tipo de fundo diferente pois não tem profundidade, o cálculo preciso da espessura dos negros o garante.

E isso se dá não porque houve essa operação que foi tão cara a Franz Kline, que submete o branco e o preto ao mesmo nível de percepção planar, mas simplesmente por uma incompatibilidade entre o lugar que sofre uma ação e o outro que se deixa ficar.


A grande conquista desses trabalhos fica sendo essa: que não é mais imperativa a busca que procura tornar compatíveis coisas incompatíveis, e, embora não aparentem, eles falem disso como uma condição positiva e essencial para o seu próprio surgimento.

Texto publicado no catálogo Célia Euvaldo, Marília Razuk Galeria de Arte, jun. 1999

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